Ele acordou cedo e resolveu caminhar. Fazia dias que não se exercitava, mas os chopps da noite anterior pareciam exacerbar sua cincunferência abdominal.
Iniciou o processo pensando em todos aqueles cálculos que os educadores físicos fazem para determinar qual o melhor ritmo cardíaco a ser mantido. Como sabia que não conseguiria fazer aquela conta, ali, de cabeça, optou pelo ritmo que lhe parecia mais aprazível. Prosseguiu com passadas rápidas, se sentiu ofegante e avistou um senhor sexagenário esbanjando um vigor cardíaco invejável, enquanto ele parecia que teria um infarto fulminante.
Para dispersar a opressão cardiopulmonar, resolveu transferir seus pensamentos para outras questões que o afligiam e persistiu nas passadas.
Era inevitável que ela não pavoasse seus pensamentos. Como pode se envolver daquele jeito!? Se viam sazonalmente, mas sempre que se viam era impossível não se tocarem. E por que aquilo durava tão pouco? Uma noite e tudo se dissipava. A urgência se perdia no vazio abstrato dos relacionamentos fugazes de hoje em dia. E ele queria tomar coragem para dizer o quanto ele a queria, o quanto achava que poderiam ficar bem juntos, perenemente. Mas ele tinha medo! Medo da rejeição, medo da falta de correspondência. Imagine ela rindo, depois dele se declarar, e dizendo a ele que entendeu tudo errado, que ela não queria nada sério, pois agora ela precisa de um tempo para si mesma e estava ligada ao auto-conhecimento, à religião budista, à carreira...
Seu coração se apertou mais e ele apertou mais as passadas, como se seus pés pudessem pisar naquele pensamento tão furtivo que lhe tomava conta dos músculos, e transformá-lo em rastro.
Aumentou o volume do seu MPqualquercoisa e ouviu o "Último Romance" do Los Hermanos ecoar em seus tímpados.
terça-feira, 12 de maio de 2009
sábado, 2 de maio de 2009
Sem ar
Estou andando em círculos, buscando a cada dia um pouco de uma felicidade minimalista que nem sei se existe. Me falta coragem de largar o que é cômodo, estabelecido, resolvido, seguro. Me falta fôlego para dizer as verdades que gostaria. Me falta discernimento para medir o risco, calcular o medo. Me falta fôlego...
Andei relendo Rubem Alves, intertextualizado, sábio quando à sua religião, atento ao mundo, e ele me mostrou um pouco de sua "Oração":
"O mundo de fora é um mercado onde pássaros engaiolados são vendidos e comprados. As pessoas pensam que, se comprarem o pássaro certo, terão alegria. Mas pássaros engaiolados, por mais belos que sejam, não podem dar alegria. Na alma não há gaiolas.
A alegria é um pássaro que só vem quando quer. Ela é livre. O máximo que podemos fazer é quebrar todas as gaiolas e cantar uma canção de amor, na esperança de que ela nos ouça. Oração é o nome que se dá a esta canção para invocar a alegria."
Não estou procurando o pássaro engaiolado que me trará alegria, mas preciso aprender a oração.
Andei relendo Rubem Alves, intertextualizado, sábio quando à sua religião, atento ao mundo, e ele me mostrou um pouco de sua "Oração":
"O mundo de fora é um mercado onde pássaros engaiolados são vendidos e comprados. As pessoas pensam que, se comprarem o pássaro certo, terão alegria. Mas pássaros engaiolados, por mais belos que sejam, não podem dar alegria. Na alma não há gaiolas.
A alegria é um pássaro que só vem quando quer. Ela é livre. O máximo que podemos fazer é quebrar todas as gaiolas e cantar uma canção de amor, na esperança de que ela nos ouça. Oração é o nome que se dá a esta canção para invocar a alegria."
Não estou procurando o pássaro engaiolado que me trará alegria, mas preciso aprender a oração.
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