segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Feliz

Dia ensolarado...

O corpo cansado pelo dever cumprido, a alma calma e o coração feliz.
Outrora estive em mares tortuosos, pensando no medo, no macro, no quanto nossa cabeça martela os sentidos.

Hoje descobri que a felicidade é um portão estreito, cujo translado passa pela leveza dos sentimentos, pela busca pelo que é simples, pela aceitação do que é imutável ou daquilo que a vida nos escolheu, pela coragem de correr riscos, pela alegria de encontrar algo surpreendentemente bom ao final da jornada.

Encontrar algo bom é uma descoberta saborosa e possível.

Perdoem-me os pessimistas, mas hoje a felicidade bateu na minha porta, sentou-se comigo, conversamos sobre o tempo, sobre a campanha política, as novas tendências da moda, uma cor de esmalte; um novo amor pra vida toda, fizemos planos de alegrias eternas e viagens internacionais, rimos do tempo em que chorei, quando haviam outras verdades estabelecidas.

Agradeci achando que ela já ia embora, mas ela me disse, "Acalme seu coração, permanecerei aqui e se achares que me fui, não te atormentes, estarei apenas fazendo charme para que você possa sempre valorizar minha companhia".

E era verdade, ela continua aqui...

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

O Haiti é logo ali...

Certamente hoje vc acordou e reclamou da vida.

Ouviu o despertador tocar, deu mais uma soneca e pensou, "Não acredito que eu tenho acordar a essa hora da manhã!". Se levantou, arrastando-se, tomou um banho, reclamando do chuveiro que não saía a quantidade de água que vc gostaria. Se trocou, olhando para o guarda roupas cheio de boas marcas e disse: " Não tenho o que vestir!". Abriu a geladeira, mas como comer algo, tão cedo assim? E resmungou de novo, não foi?

Hoje vc reclamou do trânsito, do calor, da chuva forte, da fila do Banco, dos pedestres, dos outros motoristas, de vc, da sua mulher.

Hoje vc esqueceu, mais uma vez de ligar pra sua mãe, de dizer ao seu marido que o ama, de ligar pra aquele seu amigo que vc deixou esquecido porque arrumou um novo namorado.

Hoje vc esqueceu de dar bom dia às pessoas, de ser gentil com os outros, de dizer obrigado à moça que lhe serviu um café na padaria.

Hoje, mais uma vez, vc só pensou em vc.

E vc chegou em casa, e ligou a TV, e viu que um terremoto atingiu o Haiti, e devastou o país, deixando uma situação caótica, e milhares de mortos, e total falta de estrutura governamental, e falta de tudo, água, luz, recursos, corpos espalhados pelas ruas, desespero, desesperança, o cheiro que só uma catástrofe deve ter...

Se vc achou que tinha problemas, vá ao Haiti...

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

Saudade

Saudade daquela época em que eu nem pensava em ter saudade.
Saudade de quando o tempo era meu parceiro e eu não precisava correr contra ele.
Saudade de vc, contarolando uma canção besta.
Saudade de sentir cheiro de chuva, sem me preocupar com enchente, catástrofe, dor.
Saudade de tomar sol, sem me lembrar de melanoma, carcinona, UVA e UVB.
Saudade de andar de bicicleta, sem preocupação.
Saudade de tomar cerveja sexta-feira, depois da aula.
Saudade dos amigos tantos de outrora, quando vc não precisava se preocupar com distanciamento, rugas e outras coisas mais.
Saudade de nós dois, ouvindo Band News.
Saudade do tempo em que os melhores personagens eram playmobils.
Saudade de tentar imitar o mapa do tesouro do Menino Maluquinho do Ziraldo.
Saudade do meu coelho Chamego.
Saudade de brincar de rouba bandeira e esfolar o joelho na rua.
Saudade do gosto do cheiro de bala Halls de cereja.
Saudade de tempo em que saudade era um luxo e não uma nostalgia absurda.
Saudade de ouvir Legião Urbana em fita cassete.
Saudade do cheiro da roupa de cama da minha mãe.
Saudade daquela época em que as escolhas eram mais simples, os medos mais leves, as responsabilidades mais amenas, os amores mais fugazes, as certezas menos definitivas, os desejos mais tolos, as verdades menos absolutas.

"Saudade vaga presença, coisa que bem não se explica, algo de nós que alguém leva, algo de alguém que nos fica"