quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

Retalho de um Tempo

Conversaram durante horas.
Riram das mesmas piadas, falaram a mesma língua, criaram códigos fantásticos sobre as mais diversas e absurdas situações. Passaram consecutivos minutos perdidos na dialética louca das palavras, dos sinais, dos gestos. Escolheram os melhores verbos, substantivos, inventaram adjetivos mágicos para descrever-se, e entonar, e mesclar e envolver-se.
Perderam-se nos mais diversos assuntos, sonharam os mesmos sonhos, fantasiaram viagens ao infinito, ouvindo aquela música, bebendo um pouco, sorrindo outro tanto.
Embriagaram-se do inusitado, correram por campos verdes com cheiro de terra molhada de chuva, de pés descalços e cabelos ao vento.
Caíram na lábia dos desejos e desencadearam uma cascata neurológica de sensações, mergulhada em serotonina e medo.
Vivenciaram o proibido, o subterfúgio, o subentendido.
Viram o calor do verão ser sufocado pelo frio do inverno, e os sons das muitas vozes ser calado por um silêncio sem fim, e o tempo se arrastar lento, sem assunto, sem vontade.
E de repente, não havia mais o que dizer. Havia uma lembrança, vaga, sombria, solene, saudosa, temperada com um carinho simples, um cheiro guardado e o gosto novo do inesperado.

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